segunda-feira

José Gomes Ferreira: AREIA: XXIII

...
Paisagem de muros e de cães
a ladrarem pelo céu
- propriedade azul
de todos os desgraçados.
...
Árvores escondidas
que o vento desenha em perfumes
no silêncio do sol.
...
Sebes de silvas e piteiras
ainda com o ódio primitivo
de quando o mundo
era um planeta de florestas e de pássaros,
e o homem um intruso,
um ser ilógico
sem raízes nem asas.
...
Hoje esse homem sou eu,
sem terra para pisar,
sem sombras para dormir,
sem frutos para comer,
sem flores para cheirar,
sem fontes para beber
- perseguido por todos os muros do mundo
numa paisagem de lagartixas.
...
Hoje esse homem sou eu.
...
O céu, ao menos, não tem muros.
E as aves não riscam fronteiras
nem põem vidros partidos nas nuvens.
...

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

gosto muito da escrita pétrea e aguda de Ferreira. Pena ser tão difícil encontrá-lo em livarias.

Boa lembrança

Saudações

30/12/05 12:09  
Anonymous Anônimo said...

Carlos:
Eu sentia imensa saudade de caminhar por tua Poesia, de passear os olhos pelas tuas letras. É bom voltar. Aproveito para desejar que o Ano Novo te traga Paz, Alegrias, Saúde e um tanto de Amor. Meu beijo de carinho e de saudade dos teus passos no Meu Porto.

Míriam Monteiro - http://migram.blog.uol.com.br

30/12/05 20:49  
Anonymous Anônimo said...

Ótimo trazer poetas de língua portuguesa por aqui. Ótimo. Tudo de bom nesse ano que começa. Abraços.

Thiago Ponce

2/1/06 10:44  
Anonymous Anônimo said...

Gostei muito daqui...
um abraço!

10/1/06 13:22  

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