segunda-feira

Paulo Hecker Filho: O CINZA

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Eu sempre preferi esta névoa sem névoa,
este ar enfim humilde como o humano.
Me diz mais do que a chuva,
a chuva hostil, mas doce de se olhar,
a chuva forte, que embriaga beber.
Me diz mais do que o sol,
cuja glória excessiva nos obriga a outra glória.
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Eu sempre agradeci no fundo mais ao cinza,
como quem se surpreende com uma dor que alivia.
Me atrai com a sonhadora força de um pecado,
e quem sabe é um pecado, o pecado mortal...
Ó cinza, ó puro cinza, que és o tempo sem tempo,
o tempo enfim sem tempo,
tão macio como a morte.
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