domingo

Leonard Cohen: ENCONTRADO MAIS UMA VEZ IGNORANDO OSTENSIVAMENTE OS CISNES

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Encontrado mais uma vez ignorando ostensivamente os cisnes que apaixonam os espectadores das margens dos rios americanos; encontrado mais uma vez a caducar o negócio da china só porque o telefone tem uma correspondência mágica com minha bicha-solitária; encontrado mais uma vez a deixar a humanidade engalanada entregue ao perigo de um longo repouso oficial, enquanto os mármores aguardam preparados em históricos e deprimentes salões interiores; encontrado mais uma vez a humilhar o funcionário do banco numa disputa de olhos nos olhos, dogma da arte, vidas errantes de olhares fixos e de outros murmúrios teatrais de gênio; encontrado mais uma vez o objeto eleito da ansiedade celestial, como quem monta uma cilada a um eremita na floresta com visões de um parque de estacionamento superlotado; encontrado mais uma vez com camisolas a cheirar a naftalina, titulando filmes familiares, desenredando vitorianos aparelhos de pesca ao salmão, fanaticamente convencido que há um mundo numa ordem fraternal imediatamente ao virar a esquina; encontrado mais uma vez a fazer planos para o ano ideal solitário que espera por mim como um primeiro amor carnal num calendário de opções de terceira mão; encontrado mais uma vez como uma estrela de papel devorando o fio suspenso no ar sobre as mãos que me trazem de comer e falando com eloqüência sob influência astrológica; encontrado mais uma vez a vender a acessível inocência local enquanto no Pentágono a maldição de Tiffany pode por si só garantir o meu poder; encontrado mais uma vez confiando que os meus amigos foram criados no Paraíso e que não hão de fazer mal quando por fim eu estiver sem couraça e absolutamente silencioso; encontrado mais uma vez no princípio de todas as coisas, veterano de vários sacrifícios inúteis, profético mas não seminal, o purista para as massas do futuro; encontrado mais uma vez adoçando a vida que tinha abandonado, como um guarda do jardim zoológico despedido que atira furtivamente amendoins a elefantes públicos sodomizados; encontrado mais uma vez a exibir o arco-íris, o que prova que apenas tenho acesso às minhas necessidades mais urgentes; encontrado mais uma vez a limpar a minha língua de todas as possibilidades, de todas as possibilidades exceto a minha, a perfeita.
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