Lau Siqueira: Sem meias palavras
condição perene
nas cheias
o rio comanda o espetáculo
e as margens são apenas
degraus para o leito mais fundo
nas secas
o rio é a margem
razão
nenhuma
o que escrevo
é apenas parte
do que sinto
a outra parte
finjo que minto
e acredito
as flores mallarmaicas
queria
num poema
oferecer flores
um jeito lógico
de não arrancá-las
da placidez silvestre
! como as flores
da adivinha mallarmaica
"que nunca estão no buquê"
e cujo aroma experimentamos
nas planícies viageiras
do significado
a palavra pétala
entre húmus e caules de linguagem
embriagando a dor extraída
deste pólen com o qual enlouqueço
as abelhas africanas
do esquecimento
mas tudo que tenho
são essas mãos vazias e uma
paixão petrarquiana
de insuportável hálito
modernista
deus
fingiu que estava
criando o mundo
trabalhou seis dias
oito horas em dois turnos
salário de cento e oitenta
pregos
ornamentou noites
criou nuvens
e ventos
do barro fez a criatura
num sopro
o inventário das paisagens
uma vez pronta a maquete
exonerou-se
e ficou mudo
hoje
dies dominicu
reaparece com trezentas
mil faces midiáticas
(dizem que vive em tudo)
o galo
o silêncio
com suas equações
de estrelas
abre os portais
da madrugada
sob os olhos atentos
do infinito
um quarto de lua
empresta a partitura
ao galo
a pele
do motivo
a visão nua
de tuas omoplatas
tão iguais
a tantas
esconde alguns rebanhos
da minha tristeza
grafite
morrer é quase
um imprevisto
morro sempre
quando penso
que não existo
3 Comments:
Obrigado, Carlos. O espaçamento entre os versos da maioria dos poemas ficou duplicado. Dá pra corrigir? Também a forme de O Galo e As flores, está levemente alterada, mas... tudo bem. Vale sempre. Muito obrigado por tudo, sempre, meu amigo.
Um abraço!
Gostei muito desses poemas... Beijos... :)
Li e me emocionei, você escreve com a alma.
Parabéns!
Te deixo com ele uma homenagenzinha as linhas lindas que eu li ainda apouco.
Abraço!
*
Passava os dias ali, quieto, no meio das coisas miúdas.
E me encantei.
Manoel de Barros
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