sábado

Mel do Melhor 04: Salvatore Quasimodo

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Salvatore Quasimodo (1901-68) constitui um dos tripés do que houve de melhor na poesia italiana do século XX, ao lado de Giuseppe Ungaretti e de Eugenio Montale. Nesta semana, o Mel do Melhor apresentará poemas do prêmio Nobel de 1959, constantes do seu primeiro livro, E de repente é noite (Ed è subito sera). As traduções são de Geraldo Holanda Cavalcanti.
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A quem interessar possa: como de praxe, criei uma comunidade para ele no Orkut.
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E DE REPENTE É NOITE
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Cada um está só no coração da terra
trespassado por um raio de sol:
e de repente é noite.
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Quasimodo: AVIDAMENTE ESTENDO A MINHA MÃO

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Na pobreza da carne, como sou,
eis-me, Senhor: poeira da estrada
que o vento mal levanta em seu perdão.
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Mas se afilar não soube noutro tempo
a voz primitiva ainda tosca,
avidamente estendo a minha mão:
dá-me da dor o pão cotidiano.
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sexta-feira

Quasimodo: PENA DE COISAS QUE NEM SEI

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Densa de brancas e de negras raízes
cheira a fermento e a vermes
a terra talhada d´água.
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Pena de coisas que nem sei
em mim rebenta: não basta uma morte
se, escuta, mais vezes me pesa
no coração, com sua relva, um pedaço de terra.
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quinta-feira

Quasimodo: CURVA-SE O DIA

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Eis-me desamparado, Senhor,
no teu dia,
cerrado a toda luz.
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De ti privado tenho medo,
perdida estrada de amor,
e não me é dada nem mesmo
a graça de trêmulo confessar-me
tão seca é a minha vontade.
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A ti amei e combati;
curva-se o dia
e colho sombras dos céus:
que tristeza o meu coração
de carne!
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quarta-feira

Quasimodo: ANTIGO INVERNO

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Desejo de tuas mãos claras
na penumbra da chama:
sabiam a roble, a rosas;
a morte. Antigo inverno.
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Buscavam milho os pássaros
e eram súbito de neve;
assim as palavras.
Um pouco de sol, um halo de anjo,
e logo a névoa; e as árvores,
e nós feitos de ar na manhã.
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terça-feira

Quasimodo: TERRA

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Noite, serenas sombras,
berço de ar,
chega-me o vento se por ti divago,
com ele o mar cheiros da terra
onde canta na praia minha gente
às velas, às nassas,
às crianças antes da aurora despertadas.
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Montes secos, planícies de relva nova
que espera manadas e greges,
tenho dentro o vosso mal que me escava.
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segunda-feira

Quasimodo: E O TEU VESTIDO É BRANCO

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Tens a cabeça baixa e me olhas:
e o teu vestido é branco,
e um seio aflora de entre as rendas
soltas do teu ombro esquerdo.
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A luz me supera; treme,
e te toca os braços nus.
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Revejo-te. Tinhas
palavras poucas e breves,
que punham alma
no peso de uma vida
que sabia a circo.
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Profunda era a estrada
por onde o vento descia
certas noites de inverno,
e nos despertava estranhos
como na primeira vez.
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