Mel do Melhor 10: ROBERT CREELEY

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A décima edição do Mel do Melhor apresenta poemas de Robert Creeley (1926-2005), todos eles traduzidos por Régis Bonvicino e publicados no volume A Um (Ateliê Editorial, 1997). Sem dúvida, foi um dos poetas de língua inglesa mais importantes do século passado, e não é possível deixar de notar os efeitos da sua poética na produção contemporânea de muitos países, inclusive o Brasil.

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Há muitas traduções do Robert Creeley. Leia algumas da Virna Teixeira (poeta da próxima semana no Mel do Melhor) e outras do Rodrigo Garcia Lopes (futuramente), tanto no PopBox quanto na Zunái. É de agitar os beiços.

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Robert Creeley: FALA

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Coisas simples
alguém quer dizer
como, qual o dia
como, lá, ao longe -
quem sou eu
e onde.
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Robert Creeley: ALGUM LUGAR

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Resolvi, eu
encontrei em minha vida
um centro e fiquei.
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É a casa,
árvores além, um limite
de vista que a contorna.
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O tempo
chega só como algum
vento, um pouco suspiro
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amortecido. E
se a vida não fosse?
quando algo estava para
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acontecer, se eu o
tivesse fincado,
tivesse, insistente.
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Nada existe que eu seja,
nada não. Um entre
lugar, eu sou. Sou
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mais do que idéia, me-
nos do que idéia. Uma casa,
ventos, mas uma distância
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- algo solto no vento,
sentido o tempo como aquela vida,
anda para as luzes que ele deixou.
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Robert Creeley: FIM

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Fim de página,
fim desta
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companhia - ínfimo
caderno guardado
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mente, na mão,
deixe o mundo ficar
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aberto para mim
dia após dia,
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palavras a dizer,
coisas para ser.
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Robert Creeley: VIDA

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Específica, intensiva claridade,
como nada mais,
nada menos
que ela mesma -
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tudo isso, ecoa,
visto, ouvido, sentido
ou provado, o uno
e o múltiplo. Mas
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o punho contra
a porta, pergunta
magro, contrita entrada
quer mais.
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Robert Creeley: LUZ DA NOITE

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Olhe para a luz
entre as luzes
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à noite com as luzes a-
cesas no quarto você está
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sentado só de novo com
a luz acesa tentanto ainda
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dormir mas o tédio
e o cansaço de esperar até tarde
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da noite pensando em alguma
estúpida simples luz do sol.
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Robert Creeley: TUDO MURO

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Tempo da caveira vertical
o tempo vira bombástico desastre tempo - impasse,
como um avesso e de volta outra vez design
desespero pronto impacto zelo medo tempo -
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como uma velha Véspera, tempo,
as pessoas se foram sem volta
sem resposta semanas depois vazio mortas
pouco depois de seu chamado segue chamando tempo -
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Eu sou não vejo meu caminho de volta tempo,
Aqui estava mas agora não posso ver o tempo,
Lento, enfermo e perdendo de novo o perdido tempo,
Só você pode me puxar e começar tudo de novo
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Tempo. Muito tempo pouco tempo
menos mais ainda para dar tempo,
de tempo em tempo e ainda não feito tempo
nada ao tempo, para dar tempo. Tempo.
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Robert Creeley: CONSOLATIO

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O que se foi se foi.
O que se perdeu se perdeu.
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O que é sentido como pulso -
O que é mente, o que é casa.
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Quem está aqui, onde é lá -
O que é paciência agora.
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Qual idéia entre todas,
Por que ecoar, ela.
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Para começar agora -
Porque temer o fim.
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