sábado

Mel do Melhor 12: ROBERT FROST

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A décima segunda edição do Mel do Melhor apresenta alguns dos poemas escolhidos de Robert Frost (1874-1963), traduzidos por Marisa Murray e publicados pela Editora Lidador em 1969 (aliás, pelo que eu saiba, é a única coletânea do poeta inglês radicado nos Estados Unidos publicada no Brasil). Trata-se de uma das vozes mais importantes da poesia em língua inglesa.
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Alguns poemas foram traduzidos por Renato Suttana. Vale conferir.
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sexta-feira

Robert Frost: ADEUS FIQUE TRANQUILO

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Este despedir no começo da noite
E o frio para um pomar tão novo na aparência
Recorda-me de tudo que de mal acontece
A um pomar afastado no fundo da fazenda
Todo o inverno, com uma colina entre ele e a casa.
Eu não o quero devastado por coelho ou ratazana,
Não o quero sonhadoramente cortado como pasto
Por veados nem tampouco por galos silvestres
(E certo não seria ocioso chamar e convocar
Galos, veados e coelhos para o muro e
Eu os enxotaria com uma vara em vez de arma.)
Não o quero estorricado pelo calor do sol.
(Tomamos precauções contra isso, eu espero,
Por tê-lo colocado ao norte numa encosta.)
Nenhum pomar sofre com tempestade de inverno;
Mas há uma coisa ruim que é ter calor demais.
"Quantas vezes e vezes preciso dizer
Fique tranqüilo, meu pomarsinho. Adeus e fique tranqüilo.
Receie mais o excesso do calor do que o do frio."
Eu tenho que me ausentar por muito tempo
Meu negócio lá fora é com árvores diferentes
Menos cuidadosamente nutridas muito menos frutíferas,
E cujos bosques são tratados com um machado -
Bordos e vidoeiros e também tamargueiras.
Gostaria de prometer de me deitar à noite
E pensar no transe arbóreo de um pomar
Quando lentamente (e ninguém vem com uma luz)
Seu coração mergulha pela terra adentro.
Mas alguma coisa tem que ficar para ser feita por Deus.
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quinta-feira

Robert Frost: O ATAQUE

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Sempre o mesmo quando numa noite fatal
Por fim a neve acumulada cai, tão branca
Como pode ser nos bosques escuros, e com uma canção
Não cairá novamente por todo o longo inverno
Sibilando no chão ainda encoberto;
Quase tropecei olhando à volta e acima,
Como alguém que transtornado pelo fim
Desiste do propósito e deixa a morte vir
Sobre ele onde estiver, não tendo nada feito
Para o mal, nenhum triunfo importante conquistado,
Como se a vida jamais tivesse começado.
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No entanto todo o passado está do meu lado;
Sei que a morte do inverno, por mais que haja tentado
A terra, sempre falhou; a neve pode assim se acumular
Em longas tempestades sem direção, de quatro pés de altura
Medida contra o bordo, o vidoeiro e o carvalho;
Mas não pode refrear o grasnado prateado do pintinho
E verei esta neve cair pela colina
Transformada em água num riacho de abril
Que através dos galhos secos brilha e rumoreja e
Através das ervas mortas se vai como serpente;
Nada ficará branco a não ser aqui um vidoeiro,
E ali um grupo de casas com uma igreja.
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quarta-feira

Robert Frost: UMA VEZ À BEIRA DO PACÍFICO

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A água espalhada fazia um barulho indistinto.
Grandes ondas sucediam outras que vinham,
E pensavam em fazer alguma coisa para a praia
Que a água nunca dantes fizera para a terra.
As nuvens no céu estavam baixas e espessas,
Como cachos cobrindo o brilho dos olhos.
Não se podia jurar, e, no entanto, parecia
Que a praia era feliz por ser protegida pelo penhasco,
O penhasco por ser protegido pelo continente;
Parecia que a noite de sombria intenção
Se aproximava, e não apenas a noite, mas uma era.
Mais valia alguém se preparar para o ódio.
Vai haver mais do que o quebrar das ondas
Antes que Deus diga pela última vez: "Apague a luz".
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terça-feira

Robert Frost: TRAVAR CONHECIMENTO COM A NOITE

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Sou um que travou conhecimento com a noite.
Eu fui passear na chuva - e na chuva voltei.
Deixei longe a luz mais distante da cidade.
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Olhei a mais triste ruela da cidade.
Passei pelo vigia em sua ronda
E para não explicar baixei os olhos.
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Fiquei imóvel sem o barulho dos meus passos
Quando de longe um grito interrompido
Veio, por sobre as casas, de outra rua,
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Mas não era chamado ou despedida;
E mais longe ainda, numa altura incrível,
Contra o céu, havia um relógio iluminando
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Proclamando que a hora não era certa nem errada.
Fui um que travou conhecimento com a noite.
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segunda-feira

Robert Frost: LUGARES DESERTOS

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Neve caindo e noite caindo rápida, nem rápida
Num campo que vi de passagem
No solo quase coberto de neve macia,
Algum capim ainda aparecendo
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Também o mato em volta está coberto
Todos os animais abafados em suas tocas.
Estou muito distraído para contar;
A solidão me envolve sem querer.
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E solitária como é esta solidão
Será mais só ainda antes de o ser menos -
Brancura vazia de neve na noite que cai
Sem nenhuma expressão, sem nada a exprimir.
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Não podem me assustar com seus espaços vazios
Entre estrelas - onde não há raça humana.
Pois tenho dentro de mim, muito mais perto,
Meus próprios desertos para me assustar.
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domingo

Robert Frost: O PRESENTE SINCERO

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A terra era nossa antes que fôssemos da terra.
Era nossa terra já por mais de cem anos
Antes que fôssemos seu povo. Era nossa
Em Massachussets, em Virginia,
Mas éramos da Inglaterra ainda uma colônia
Possuindo o que ainda não nos possuía
Possuídos agora pelo que não mais possuímos.
Alguma coisa que estávamos escondendo nos enfraquecia
Até que descobrimos que éramos nós mesmos
Que estávamos nos escondendo de nossa terra mãe,
E logo encontramos salvação na rendição.
Assim como éramos, rendemo-nos totalmente
(A ação da oferenda foram as ações guerreiras)
Á terra ocidental vagamente delineada
Mas ainda sem lendas, sem artes, sem realce,
Tal como era, tal como se tornaria.
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